Por: Pollyana Rodrigues
Podcast, videocast, aulas síncronas, assíncronas, Google, Teams, Youtube, Zoom, silêncio em casa, espaço para poder se concentrar, liberdade para trabalhar. Professor virou aluno, buscou atualizações, aprendeu sobre edição, som e iluminação, vídeos e, assim, passou a assumir novos papéis na educação. Além das novidades com que os professores precisavam lidar, os novos desafios dos alunos, como acesso à internet, falta de equipamentos para acompanhar as aulas e busca de espaço para estudar de casa. As formas de ensinar e de aprender se transformaram.
O IOS (Instituto da Oportunidade Social), que já formou 42 mil novos profissionais para o mercado de trabalho em Administração e Tecnologia, além das dificuldades técnicas, precisou enfrentar também a desigualdade social durante a pandemia, que resultou em uma taxa de 51% no índice de evasão dos alunos. O maior impacto nesse indicador ocorreu no primeiro semestre de 2020, quando foi preciso migrar do modelo presencial de aulas para o remoto de forma urgente e não prevista pelos alunos matriculados.
Os motivos relatados eram a falta de equipamentos para acompanhar as aulas, de acesso à internet, ambiente adequado para concentração e ainda a necessidade de ajudar os pais nas tarefas de casa, além da falta de disciplina para acompanhar o novo formato das aulas.
Foi preciso atuar frente a essas barreiras para dar continuidade à formação profissional dos alunos. Por isso, no segundo semestre, o curso foi totalmente remodelado. Passou a ser semipresencial para atender tanto às necessidades de formação profissional quanto os cuidados com a saúde.
A forma de ensinar estava em transição. Foi preciso tornar o ensino mais dinâmico e atrativo em tempos de isolamento social. A equipe de desenvolvimento de conteúdo do IOS adotou métodos que comparam e aproximam a realidade do dia a dia do aluno com a vivência corporativa. Além disso, o IOS disponibilizou chip de internet para aproximadamente 40% dos alunos, com acesso exclusivo à plataforma dos cursos em formato on-line. Nesse cenário, os patrocinadores do IOS, privados e públicos, apoiaram as estratégias educacionais e participaram ativamente de forma voluntária e assistencial. Graças às parcerias, foi possível levar conteúdo on-line aos alunos matriculados, doar cestas de alimentos, higiene, gás e chips de internet gratuita para as diferentes unidades do Instituto.
As medidas reduziram de 51% para 30% a taxa de evasão – ainda elevada para os padrões do IOS, que sempre figurou entre 15% e 18%. Os professores quebraram de vez as barreiras tecnológicas na educação. Antes era preciso pedir para o aluno desligar o celular durante as aulas e depois da pandemia o movimento passou a ser exatamente o contrário.
Os cerca de 50 professores do IOS utilizaram muito mais materiais didáticos em vídeos e proporcionaram ambientes de simulação para que os alunos pudessem praticar com mais realidade. Além da possibilidade de utilizar outras mídias como o podcast, que permite ao aluno visitar o conteúdo da aula no melhor horário para ele e, com isso, oferecer mais autonomia aos estudantes, também passaram a usar o videocast, com todas as vantagens do podcast somadas à acessibilidade para os alunos com deficiências auditivas.
Para essas mudanças, os professores precisaram ser alunos e estudar as diferentes plataformas para entender as necessidades, as dificuldades, assumindo ainda mais a função de “pontes de conhecimento" ao invés de “detentores do conhecimento” que mantinham antes do novo formato.
Para a aluna formada pelo IOS, Mickaella dos Santos Gomes, o curso significou o início de uma carreira de muitos aprendizados, estudos e desenvolvimento. Hoje, graças ao programa de oportunidades do IOS ela já está empregada na TOTVS. “Descobri que quero muito crescer em tecnologia, tem muitas oportunidades nessa área e a dinâmica é bastante empolgante”, declara a jovem.
Esse trabalho foi fundamental no período mais crítico da pandemia, para auxiliar nas demandas relacionadas à ansiedade, depressão, conflitos familiares, defesas de direitos, dificuldade de aprendizagem, inclusão, diversidades e demais situações que possam interferir no bom desempenho nas aulas.
“A formação de jovens em vulnerabilidade social para o mercado de trabalho abre um novo capítulo na educação a partir do modo on-line imposto pela pandemia, com o desafio de enfrentar um inimigo tão persistente e devastador quanto o vírus: a desigualdade social do Brasil", afirma a superintendente do IOS, Kelly Lopes.
Em 2021, o IOS completou 10 anos em Belo Horizonte, totalizando 1.636 jovens e pessoas com deficiência formados. Desse total, cerca de 1.100 conquistaram seu primeiro emprego com a ajuda do IOS, ou seja, a cada 10 alunos formados, 7 conseguiram uma oportunidade de trabalho.
Foi o caso de Erika Monique, 18 anos. Ela decidiu fazer um curso para buscar mais qualificação para conseguir uma oportunidade de trabalho. Por indicação de uma amiga, ela conheceu o IOS e realizou dois cursos seguidos, ambos com foco em administração e tecnologia. Em 2020, ela conseguiu seu primeiro emprego como jovem aprendiz na área de RH. Na sua opinião, o IOS a ajudou a identificar sua vocação para atuar nessa área e a definir como próximo passo na sua carreira o ingresso na universidade para cursar Gestão em Recursos Humanos.
A pandemia acelerou a digitalização das empresas, e as OSCs não ficaram de fora dessa necessidade. De acordo com a superintendente, o IOS chegou ao final de 2020 sem deixar nenhum aluno, família, parceiro ou participante para trás. A retomada dos indicadores de impacto de 2021 aos patamares de 2019 fica clara nos resultados apresentados no Relatório Anual da Organização disponível no site: www.ios.org.br.
Políticas públicas e projetos como os do IOS, direcionados aos jovens, são base para o desenvolvimento social e econômico do Brasil. “É importante reforçar que, cada vez mais, a atuação conjunta de OSCs, como o IOS, com os setores da economia, com objetivos comuns de formação de jovens, se faz necessário e urgente para impulsionar o futuro da força de trabalho do nosso país”, conclui Kelly Lopes.
Conheça mais sobre o IOS e confira os cursos disponíveis para sua região: https://ios.org.br/
*Pollyana Rodrigues é coordenadora de responsabilidade social e líder da unidade do IOS de BH.
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